sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O sal dá vida

Tem-se falado tanto em pré-sal nos últimos dias que suspeito que deve haver hiper-tenso desligando a TV na hora do noticiário. O governo federal realizou grande solenidade para divulgar o início da regulação da extração da riqueza mineral que nosso presidente Lula definiu como um presente de Deus. Acredito que temos todas as razões para esperar dias melhores. Aliás, estamos vivenciando dias melhores, apesar dos bigodudos pesares. Entretanto, como prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, convém atentar para alguns aspectos importantes. Em primeiro lugar, grandes reservas de petróleo não são obrigatoriamente a panacéia para os problemas sociais de um país. Há muitas nações – na nossa vizinhança inclusive – em que a riqueza do ouro negro nunca chegou a ser distribuída. Neste sentido, é bom notar que o governo federal se inclina no sentido de promover uma divisão dos recursos com os estados não-produtores. Isso evidentemente não agrada aos estados sudestinos, especialmente Rio, São Paulo e Espírito Santo. Mas se levamos em conta as necessidades de outras regiões do país que historicamente são menos aquinhoadas, não podemos deixar de louvar as pretensões distributivas do presidente Lula. Um outro dado importante é o manifesto objetivo de que os recursos sejam empregados especialmente na erradicação da pobreza e na educação.
Alguém criticou que não se elencou entre as prioridades de investimento a segurança pública. Ora, entendo que o panorama desolador da segurança hoje é um problema decorrente em grande parte da explosiva combinação de pobreza e impunidade (impunidade entendida aqui como algo que engloba desde a falta de polícia até a corrupção nos altos escalões da administração, afinal de contas, o exemplo bom tem que vir de cima). Nada melhor para melhorar as condições de vida da população do que o investimento maciço em educação de qualidade. Os exemplos disso são abundantes e bem conhecidos.
A sociedade tem de estar alerta para que as riquezas do pré-sal – se efetivamente um dia chegam – não caiam novamente no ralo voraz das elites parasitárias do Estado, das panelas que fazem de nossa nação uma democracia anêmica. Que o dinheiro não seja outra vez usado para financiar estruturas perdulárias e cabides de emprego. Outra questão importante diz respeito aos impactos ambientais. Não seria exagerado refletir sobre se estamos tomando o caminho correto. A extração do óleo em questão exigirá tecnologia complicada e cara. Há quem duvide inclusive da viabilidade econômica da empreitada. Não seria melhor investir na potencialização dos estudos em combustíveis renováveis e limpos? Estamos, portanto, em uma destas encruzilhadas históricas. Nunca é demais recordar que o sal dá vida, mas se não é bem usado, também dá morte.