Nas últimas semanas, devido a compromissos de trabalho, tive a oportunidade de conhecer três importantes capitais brasileiras: Fortaleza, Belo Horizonte e Florianópolis. Descobrir as muitas faces do país para mim tem sido uma fascinante ampliação de horizontes. Não deixo de me espantar pelo fato de como sendo ao mesmo tempo tão parecidos e tão diferentes podemos assumir a identidade de brasileiros, mesmo estando separados pelas imensidões continentais do “impávido colosso”. Já sabemos que é observando o outro que nos vemos (e nos conhecemos) melhor. Obviamente, uma visita rápida não permite mais do que roçar a epiderme de uma cidade. Para enxergar um lampejo de sua alma é preciso tempo, mas é inevitável que surjam comparações, a final de contas, ao entrar em contato com novas realidades recorremos sempre às nossas experiências anteriores como base para a apreensão do novo. E dessa forma vamos colecionando semelhanças e diferenças, e listando-as mentalmente, numa espécie de registro de partida dobrada no qual contabilizamos pontos positivos e negativos de cada faceta inédita com que nos deparamos.
Por mais amor que haja pelo nosso lugar, é indiscutível que temos problemas. Basta circular por algumas das ruas centrais da cidade do Recife. Inexplicavelmente o lixo se acumula por ruas e esquinas. O comércio ambulante se apossou das calçadas, obrigando os pedestres a caminhar pelo meio das vias. Com isso o tráfego de veículos se complica pois os mesmos são obrigados a diminuir a marcha. Para completar o triste quadro, as galerias de águas pluviais e a rede de esgoto, por diversas razões, não cumprem suas funções a contento. Resultado: as águas servidas enchem as ruas de odores fétidos e podridão. Os equipamentos urbanos – as praças e as placas de sinalização – estão muitas vezes em péssimo estado de conservação.
Na visita a estas cidades brasileiras desfrutei do prazer quase esquecido de poder caminhar pelas ruas sem me deparar com montões de lixo ou com rios de fezes. Mesmo sendo uma grande metrópole, com tudo o que de negativo isso implica, em Belo Horizonte encontrei praças limpas e bem ajardinadas. Em Fortaleza, cidade que não brilha propriamente pela beleza do seu espaço urbano, percebi que as ruas estavam limpas. Em Florianópolis senti profunda inveja dos que vivem numa cidade asseada e bem sinalizada. E mais: todo o centro velho da bela cidade-ilha já tem sua fiação embutida. Que bonita é uma cidade sem postes e sem a poluição visual dos fios e cabos. Inexplicavelmente o processo de embutimento da fiação em Olinda se arrasta por anos! Quem já esteve em Ouro Preto – cidade patrimônio da UNESCO, assim como Olinda – consegue se dar conta do atentado estético dos postes e fios. Como pernambucano militante, continuo alimentado a esperança de um dia poder desfrutar da “alma encantadora das ruas” em nosso próprio lar.