O sonho de consumo. O meio de transporte. O fetiche. A segunda família. O carro. A máquina moderna que um dia Ford transformou em objeto de produção em massa. O companheiro inseparável de milhões e milhões de pessoas no mundo. Há quem passe mais tempo dentro dele que com os filhos. Há quem dispense mais carinho ao veículo que à esposa. Eles estão por toda parte. Cada vez mais modernos, cada vez mais bonitos, cada vez mais numerosos. De sua produção e comercialização depende uma parcela importante da economia mundial. A crise recente impactou diretamente na indústria automobilística e acendeu o sinal de alerta na mesa dos dirigentes do grande império do norte. Por aqui caíram alíquotas de imposto. Tudo para que o ritmo de produção e venda se mantivesse. Buscam-se reservas de petróleo e combustíveis alternativos com sofreguidão. Há que dar de beber a todos estes motores. Aonde vamos com tantos carros?
Feitos para facilitar, transformam-se em estorvo. É impossível ir a qualquer parte sem se deparar com engarrafamentos. Até as pequenas cidades do interior passam por vistorias de engenheiros de trânsito para disciplinar a sua frota crescente. Na capital, como não há transporte público digno e eficiente, todos os que necessitam um deslocamento mais rápido e confortável, podendo, optam pelo carro. Outro dia, indo por uma grande avenida às 7 e pouco da manhã na direção do subúrbio, percebi que a maioria absoluta dos veículos passavam com apenas uma pessoa, o próprio condutor. O custo ambiental disso tudo é astronômico. A perda de tempo e de saúde também não é desprezível.
E como se não bastassem todos esses problemas, ainda temos que conviver com uma praga chamada motorista mal-educado, também conhecida como condutor irresponsável. São aqueles que pouco se lixam para a sinalização, transitam em velocidades supersônicas, furam as filas de retorno, forçam ultrapassagens, ignoram os pedestres. Alguns destes motoristas até que não fazem por mal, são desprovidos de inteligência, simplesmente. São burros puxando carroças. Esses são incapazes de visualizar situações e facilitar a circulação com gestos simples de cortesia, mas que não cabem nas poucas luzes que os guiam. E nas rodovias, como andam as coisas? Isso é capítulo à parte e dá panos para mangas. Nas poucas vezes que arrumo coragem pra viajar de carro me convenço de que realmente Deus é brasileiro. Não fosse, morreria muito mais gente do que morre nas estradas. E olha que não é pouco, vejam-se as estatísticas publicadas, especialmente após os feriados. Os próximos anos serão decisivos para as políticas públicas de regulamentação do trânsito e de transportes públicos. Com a economia em crescimento, o número de veículos e de pessoas deslocando-se só tende a aumentar. Como otimista, espero que o caos, pelo menos, não aumente junto.